Como manter os níveis de glicemia no intervalo-alvo na diabetes tipo 1?
Se recebeu recentemente um diagnóstico de diabetes, é possível que se esteja a deparar com vários conceitos novos que tem de aprender e perceber. Um destes conceitos é o intervalo-alvo da sua glicemia.
Neste artigo, iremos abordar o motivo pelo qual é importante manter os níveis-alvo de glicemia [1,2] e daremos algumas sugestões sobre como poderá manter o seu intervalo-alvo .
Por que motivo é importante manter os seus níveis-alvo de glicemia?
Pode parecer complicado tentar manter os seus níveis de glicemia num intervalo definido, realizar vários testes e fazer um cálculo cuidado das doses, mas estes procedimentos são muito importantes [1].
Se tem diabetes tipo 1, terá de utilizar a insulina para gerir os seus níveis de glicemia [1]. A gestão intensiva da insulina é necessária para um controlo otimizado da glicemia [1].
A gestão cuidada da sua glicemia, mantendo-a no seu intervalo-alvo , ajudará a prevenir complicações a curto e a longo prazo [1].
A manutenção dos valores no intervalo-alvo permite ainda melhorar a sua energia e disposição [2].
7 sugestões para manter os seus níveis-alvo de glicemia
Abaixo, encontrará algumas sugestões para ajudar a manter os seus níveis-alvo de glicemia.
1. Conhecer o seu intervalo-alvo
É importante tentar e manter a sua glicemia no intervalo-alvo durante o máximo tempo possível [2]. Isto pode ajudar a prevenir ou adiar algumas complicações a curto e longo prazo da diabetes, incluindo doenças oculares, cardíacas e renais [2].
Os intervalos-alvo variam de pessoa para pessoa, e podem depender de vários fatores, incluindo a sua idade e quaisquer outros problemas de saúde que possa ter [2].
A decisão quanto ao intervalo-alvo mais indicado para si fará parte da conversa que terá com a sua equipa de profissionais de saúde [2].
2. Estabelecer uma rotina de testagem

É importante ter uma rotina regular para a gestão da sua diabetes. Existem evidências de que alguns adolescentes não medem regularmente a sua glicemia [3], e esquecem-se de administrar 25% das suas injeções de insulina [3].
A frequência com que mede os seus níveis de glicemia irá depender de diversos fatores [2]. Os momentos comuns para medir a glicemia podem incluir [2]:
- Quando acorda
- Antes de uma refeição
- Duas horas após uma refeição
- Ao deitar
Em determinadas circunstâncias, a sua equipa de profissionais de saúde poderá sugerir a medição da sua glicemia mais regularmente [2]. Este pode ser o caso se tiver vários episódios de glicemia baixa ( hipoglicemia ) [2].
3. Manter um registo dos seus níveis de glicemia
É necessário verificar o seu nível de glicemia para garantir que está a administrar a dose correta de insulina [1].
Atualmente, é mais fácil manter um registo da sua glicemia utilizando medidores de glicemia e sistemas de monitorização contínua da glicose (MCG) [1]. Estes dispositivos para a diabetes dispõem de um processo automático de registo de dados, como os níveis de glicemia , os equivalentes de hidratos de carbono e as doses de insulina , o que permite a disponibilização mais rápida dos dados [1].
Perceber como os seus níveis de glicemia mudam ao longo do tempo permite-lhe estar totalmente informado e discutir as suas necessidades com a sua equipa de profissionais de saúde.
4. Cuidar da sua saúde física

A prática de exercício é muito importante para as pessoas com diabetes tipo 1 [4].
Existem vários benefícios para a prática de exercício físico por pessoas com diabetes [4]. Está demonstrado que melhora a sensibilidade à insulina , reduz os fatores de risco de doenças cardíacas e dos vasos sanguíneos (cardiovasculares) e melhora a qualidade de vida [4].
As orientações sugerem que deve tentar praticar, pelo menos, 150 minutos de exercício moderado a intenso, distribuídos ao longo de três dias, no mínimo, com pelo menos duas sessões de exercício de resistência por semana [4].
Está demonstrado que uma grande percentagem de pessoas com diabetes tipo 1 não cumprem o recomendado nestas orientações [4].
Foram identificados diversos obstáculos que podem levar as pessoas a não praticar exercício físico, incluindo receio de episódios de hipoglicemia , falta de tempo, mau tempo e pressões profissionais [4].
Se gostaria de praticar mais exercício do que aquele que pratica, fale sobre isso com a sua equipa de profissionais de saúde para perceber se existe uma forma para ajudar a atingir os seus objetivos.
5. Cuide também da sua saúde mental
A saúde mental afeta muitos aspetos da vida diária, incluindo a forma como pensa e sente, como gere o stress e como toma decisões [5]. Pode também fazer com que seja mais difícil cumprir um plano de assistência para a diabetes [5].

Os problemas associados à diabetes também podem agravar a saúde mental [5]. Os jovens com diabetes têm um maior risco de ter problemas de saúde mental, como depressão [6]. Muitas vezes, estes problemas de saúde mental são subdiagnosticados [6].
Os problemas de saúde mental que podem ocorrer em pessoas com diabetes incluem depressão, stress, ansiedade e angústia associados à gestão da diabetes [5]. Os problemas de saúde mental que não são tratados podem dificultar ainda mais a gestão da diabetes [5].
Se sentir dificuldades ao nível da sua saúde mental, não pense que não precisa de ajuda para lidar com a situação. Existem muitas formas de obter apoio e que poderão ser indicadas pela sua equipa de profissionais de saúde [5].
6. Tenha atenção ao que come
Uma alimentação saudável é essencial para manter uma boa gestão da glicemia [7].
Aprender a contar ou estimar os hidratos de carbono das suas refeições permite-lhe ajustar as doses de insulina para manter a glicemia no seu intervalo-alvo [7]. A este processo dá-se o nome de contagem de hidratos de carbono.
Existem também algumas outras coisas que pode fazer para adotar uma alimentação saudável e manter os seus níveis-alvo de glicemia [2]:
- Comer em horários regulares e não saltar refeições
- Beber água ao invés de sumo ou bebidas com gás
- Limitar a ingestão de bebidas alcoólicas
- Optar por uma peça de fruta ao invés de um doce processado
- Escolher alimentos pobres em calorias, gorduras “más” (gorduras saturadas e gorduras trans), açúcar e sal
- Controlar as porções de alimentos
- Manter um registo dos seus níveis de glicemia para perceber o que provoca a sua subida ou descida
- Controlar os alimentos e bebidas que ingere e a atividade física
Embora nem sempre seja fácil manter a motivação e seguir as orientações alimentares, a alimentação e nutrição saudáveis são uma ferramenta importante para gerir os níveis de glicemia [7].
Contudo, isto não significa que tenha de mudar drasticamente a sua dieta. Normalmente, pode ser desenvolvido um regime de insulina adequado para si, adaptado à sua rotina de refeições e de alimentos preferidos [7]. As alterações no seu estilo de vida podem também ajudar a incorporar o seu regime de insulina na sua dieta preferida e nas suas rotinas de exercício [7]. A sua equipa de cuidados da diabetes ajudará nesta adaptação.
7. Obtenha informação
A autogestão da diabetes pode ser um processo complexo [8]. No entanto, é importante. Estima-se que 95% dos cuidados da diabetes são autogestão [8].
Esta complexidade pode levar a uma fraca gestão da glicemia [8].
Os programas de educação em diabetes da sua equipa de profissionais de saúde podem ajudar neste processo, e são normalmente disponibilizados quando a doença é diagnosticada e em vários outros momentos ao longo da sua jornada da diabetes [8].
Se sentir dificuldade na autogestão, poderá ser útil frequentar um programa de educação intensivo. Um estudo demonstrou que um programa de 6 meses com um enfermeiro formador proporcionou uma melhoria significativa em termos da gestão da glicemia a longo prazo [3].
A gestão da diabetes pode ser um processo complexo, mas existem vários passos simples que pode seguir para lhe dar todas as hipóteses de gerir corretamente a sua diabetes [1,2,3,4,7,8].
A sua equipa de profissionais de saúde poderá prestar mais informações e apoio para mais facilmente ajudar a manter a sua glicemia no intervalo-alvo .
Fontes
- Wong, J.C., Neinstein, A.B., Spindler, M., Adi, S. A Minority of Patients with Type 1 Diabetes Routinely Downloads and Retrospectively Reviews Device Data. Diabetes Technology & Therapeutics 2015; 17(8): 555-562. http://doi.org/10.1089/dia.2014.0413
- Centers for Disease Control and Prevention. Manage Blood Sugar. Acedido em abril 2022. Disponível em: https://www.cdc.gov/diabetes/managing/manage-blood-sugar.html
- Couper, J.J., Taylor, J., Fotheringham, M.J., Sawyer, M. Failure to maintain the benefits of home-based intervention in adolescents with poorly controlled type 1 diabetes. Diabetes Care 1999; 22 (12): 1933–1937. https://doi.org/10.2337/diacare.22.12.1933
- Kennedy A., Narendran P., Andrews R.C. for the EXTOD Group, et al. Attitudes and barriers to exercise in adults with a recent diagnosis of type 1 diabetes: a qualitative study of participants in the Exercise for Type 1 Diabetes (EXTOD) study. BMJ Open 2018;8:e017813.
doi: 10.1136/bmjopen-2017-017813
- Centers for Disease Control and Prevention. Diabetes and Mental Health. Acedido em abril 2022. Disponível em: https://www.cdc.gov/diabetes/managing/mental-health.html .
- Schwartz, D.D. Cline, V.D., Axelrad, M.E., Anderson, B.J. Feasibility, Acceptability, and Predictive Validity of a Psychosocial Screening Program for Children and Youth Newly Diagnosed With Type 1 Diabetes. Diabetes Care 2011; 34 (2): 326–331. https://doi.org/10.2337/dc10-1553
- Davison, K.A.K., Negrato, C.A., Cobas, R. et al. Relationship between adherence to diet, glycemic control and cardiovascular risk factors in patients with type 1 diabetes: a nationwide survey in Brazil. Nutr J 2014; 13: 19. https://doi.org/10.1186/1475-2891-13-19
- Wiley, J., Westbrook, M., Long, J. et al. Diabetes Education: The Experiences of Young Adults with Type 1 Diabetes. Diabetes Ther 2014; 5: 299–321. https://doi.org/10.1007/s13300-014-0056-0