Hiperglicemia: sintomas e causas
Se foi recentemente diagnosticado com diabetes, há muita terminologia nova que pode aprender.
Este artigo é dedicado à hiperglicemia , um termo médico que designa os níveis elevados de glicemia [1]. Quando terminar a sua leitura, esperamos que tenha uma ideia mais clara do que é a hiperglicemia , o que causa a hiperglicemia e algumas das potenciais complicações no futuro.
O que é a hiperglicemia ?
A hiperglicemia é o termo que designa os níveis elevados de glicose (açúcar) no sangue [1]. Existem várias causas para a hiperglicemia [2], incluindo a diabetes [1].
O nível de glicose no seu sangue é regulado pela hormona insulina , que é segregada pelo pâncreas [1]. A diabetes ocorre quando existe uma subida nos níveis de glicemia devido ao facto de o organismo não conseguir produzir nenhuma insulina ou em quantidade suficiente, ou devido ao facto de não conseguir utilizar a insulina de forma eficaz [1].
Se não for tratada durante um longo período, a hiperglicemia pode vir a provocar diversas complicações [1]. No entanto, temos boas notícias: uma gestão cuidadosa da diabetes, que evite a hiperglicemia de longa duração, permite prevenir ou retardar estas complicações [1].
Existem várias formas de definir a hiperglicemia , que variam consoante as orientações que ler.
O que causa a hiperglicemia ?
Existem diversas causas para a hiperglicemia [2].
Na diabetes tipo 1, o sistema imunitário do seu organismo ataca as células que produzem a insulina no pâncreas [1,2]. Consequentemente, nenhuma (ou muito pouca) insulina é produzida, com uma deficiência relativa ou absoluta de insulina [1]. A inexistência de insulina leva a que a glicose não possa ser transportada do sangue para as suas células (para ser convertida em energia), o que faz subir os níveis de glicose no seu sangue [1].
Na diabetes tipo 2 , a hiperglicemia é o resultado de o seu corpo não produzir insulina suficiente, e de não ser capaz de responder totalmente à insulina (esta situação é conhecida como resistência à insulina ) [1].
Existem várias outras doenças e medicamentos que também podem provocar hiperglicemia , incluindo [2]:
- Lesões no pâncreas decorrentes, por exemplo, de pancreatite crónica ou cancro do pâncreas
- Distúrbios hormonais, como a doença de Cushing
- Utilização de medicamentos como, por exemplo, esteroides
- Estar gravemente debilitado, seja numa situação de pós-operatório ou de pessoas gravemente doentes
- Diabetes gestacional, que se deve, sobretudo, a uma menor sensibilidade à insulina
- Nutrição parentérica total (NPT) e perfusão de dextrose (em que os nutrientes são introduzidos nas veias com um cateter)
Causas da hiperglicemia na diabetes
Os níveis elevados de glicemia podem ocorrer por diversos motivos.
Um dos motivos pode estar relacionado com o facto de não ter tomado insulina suficiente [3]. Isto pode ocorrer caso se esqueça de tomar a sua dose de bólus (dose única de insulina ) após uma refeição, caso tenha calculado a sua dose incorretamente, ou caso tenha tomado uma quantidade insuficiente da dose [3].
Um outro motivo da hiperglicemia podem ser as alterações na ingestão dos alimentos [3]. Isto pode acontecer se a sua refeição incluir mais gorduras ou hidratos de carbono do que pensava, ou se comer uma porção superior à que tinha calculado para a sua dose de insulina [3].
O que se passa na sua vida também pode ter um impacto na sua gestão da diabetes, uma vez que algumas situações aumentam a probabilidade de ter hiperglicemia [3]. Estas podem incluir estar sob stress, comer fora de casa, estar ocupado e sentir-se cansado [3].
A hiperglicemia também pode ocorrer durante a prática de exercícios anaeróbicos intensos, se tiver diabetes [4]. De entre alguns dos fatores que podem aumentar a probabilidade de ter um nível elevado de glicemia durante a prática de exercício físico incluem-se: a redução da dose de insulina para evitar a hipoglicemia , a ingestão de demasiados hidratos de carbono durante o exercício físico, e o exercício “anaeróbico” de alta intensidade [4].
Fatores de risco de hiperglicemia
A hiperglicemia é comum em pessoas com diabetes [3]. Num estudo, 61,9% das pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2 reportaram ter, pelo menos, um episódio de hiperglicemia pós-prandial (hiperglicemia após uma refeição) na última semana [3].
Há vários fatores que podem aumentar o risco de ter hiperglicemia , incluindo [2]:
- Elevado IMC (índice de massa corporal)
- Antecedentes familiares de diabetes tipo 2
- Determinadas origens étnicas
- Hipertensão
- Elevados níveis de gorduras no sangue
- Ter tido diabetes durante a gravidez
- Presença de síndrome do ovário poliquístico
Sintomas e sinais de hiperglicemia na diabetes

Quando os seus níveis de açúcar no sangue são ligeiramente superiores ao normal, normalmente não terá quaisquer sintomas.
Os sintomas de hiperglicemia (e diabetes) incluem [1]:
- Sede anormal e boca seca
- Urinação frequente, sobretudo à noite (incluindo enurese noturna)
- Falta de energia, cansaço e letargia
- Fome
- Visão turva
- Perda de peso súbita
- Feridas de cicatrização lenta
- Infeções recorrentes
Sinais de alerta precoce de hiperglicemia
Se tem diabetes, é provável que queira detetar um episódio de hiperglicemia o mais cedo possível.
Num estudo realizado, foi perguntado às pessoas com diabetes como sabiam identificar que estavam a ter um episódio de hiperglicemia [3]. Na maioria dos casos, a hiperglicemia foi detetada em testes de glicemia [3].
A forma mais comum de os inquiridos saberem que estavam a ter um episódio de hiperglicemia foi descrita como “simplesmente não se sentiam bem” [3].
Os participantes também reportaram a urinação frequente como um indicador-chave [3].
Sintomas graves de glicemia elevada
Os sintomas mais comuns de hiperglicemia grave são [2]:
- Urinar com mais frequência do que o habitual ( poliúria )
- Beber mais líquidos do que o normal ( polidipsia )
Um sintoma menos imediato é perder peso inesperadamente [2].
Se a glicemia elevada não for tratada, pode levar ao agravamento dos sintomas que podem requerer tratamento. Estes podem incluir [2]:
- Letargia
- Alterações no seu estado mental
- Sintomas do sistema nervoso
Em casos realmente graves, a pessoa com hiperglicemia grave pode progredir para um estado comatoso [2].
Complicações da hiperglicemia
Se não tratar a hiperglicemia , esta pode provocar uma série de complicações, a curto e a longo prazo [2,5,6].
Síndrome hiperglicémica hiperosmolar (SHH)
A síndrome hiperglicémica hiperosmolar (SHH) está classificada como uma emergência na diabetes [5]. É mais frequente nos adultos e nos idosos e, de forma geral, surge gradualmente ao longo de dias ou semanas [5].
As características da SHH são [5]:
- Hiperglicemia : glicemia elevada
- Hiperosmolaridade: o sangue é mais concentrado do que o normal
- Falta de acidose: o seu sangue é menos ácido do que o habitual
- Alterações no estado mental: alterações no seu comportamento
Se tem SHH, fica muitas vezes muito desidratado [5]. A SHH é tratada no hospital, com monitorização cuidadosa, fluidos intravenosos (IV) para corrigir a desidratação, e insulina para baixar a glicemia [5].
Cetoacidose diabética (DKA)
A cetoacidose diabética é uma condição grave, geralmente causada pela redução nos níveis de insulina no sangue, diminuição do uso de glicose , e aumento da produção de glicose [6].
As características da DKA são [6]:
- Hiperglicemia : níveis de glicemia elevados
- Acidose: sangue demasiado ácido
- Cetose: presença de cetonas no sangue
A DKA pode desenvolver-se muito rapidamente, por vezes em menos de 24 horas [6].
Os sintomas da DKA incluem geralmente:
- Náuseas e vómitos [2]
- Dor abdominal [2]
- Urinação mais frequente do que o habitual ( poliúria ) [6]
- Beber muito mais do que o habitual ( polidipsia ) [6]
- Comer muito mais do que o habitual (polifagia) [6]
- Fraqueza [6]
- Respiração rápida e superficial [2]
Algumas pessoas podem estar menos atentas [6]. Isto pode variar entre confusão e coma, em casos extremamente graves [6].
A DKA é uma emergência médica [5]. Se pensa que pode ter DKA, deve dirigir-se ao hospital para ser avaliado e tratado.
Se tiver uma DKA muito precoce ou ligeira, poderá ser tratado no hospital com fluidos administrados por via oral e depois regressar a casa [6]. Mais frequentemente, terá de ser internado no hospital onde o seu tratamento envolverá a administração de fluidos intravenosos, insulina endovenosa e a substituição de alguns dos químicos no seu sangue [6].
Em casos de DKA grave, a pessoa poderá ter de ser internada na unidade de cuidados intensivos para tratamento e monitorização [6].
Complicações a longo prazo da hiperglicemia
Se não for tratada, a glicemia elevada durante muito tempo pode causar lesões em muitas partes do seu corpo, causando problemas nos olhos, rins, nervos, coração e vasos sanguíneos [2].
As lesões causadas pela hiperglicemia levam a condições que envolvem [1]:
- O coração e os vasos sanguíneos, aumentando o risco de ataques cardíacos, angina e problemas nos vasos sanguíneos
- Os olhos, causando possível diminuição da visão e cegueira devido a lesões nos pequenos vasos sanguíneos do olho
- Os rins, levando a doença renal crónica
- Os nervos, com danos que levam a sensações anormais e dormência, mais frequentemente nos pés
Embora esta lista possa parecer assustadora, a sua equipa de cuidados de saúde poderá ajudá-lo. Esta irá efetuar rastreios regulares para detetar quaisquer complicações associadas à glicemia elevada [1]. Em caso de sinais que apontem para o desenvolvimento de uma complicação, esta poderá ajudá-lo a fazer alterações que possam prevenir ou tratar o problema [1].
A gestão eficaz e eficiente da hiperglicemia pode reduzir o risco de desenvolver estas complicações e ajudar a evitá-las [1,2].
A hiperglicemia , ou glicemia elevada, pode ser causada por uma série de doenças, incluindo a diabetes [1,2]. Pode levar a complicações graves a curto prazo, incluindo cetoacidose diabética e síndrome hiperglicémica hiperosmolar [5,6].
A longo prazo, se não for gerida, a hiperglicemia pode levar a complicações envolvendo os olhos, coração, rins, nervos e vasos sanguíneos [2].
Gerir a sua glicemia e as potenciais complicações da sua diabetes é um dos aspetos em que a sua equipa de cuidados de saúde o ajudará [1]. Se tiver alguma dúvida quanto aos seus níveis de glicemia , ou se estiver preocupado com o risco de complicações, esta equipa trabalhará consigo para lhe dar todos os esclarecimentos necessários.
Fontes
- International Diabetes Federation (2017). IDF diabetes atlas (8th Ed).
- Mouri M, Badireddy, M. Hyperglycaemia. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430900/
- Brod, M., et al. Understanding Post-Prandial Hyperglycemia in Patients with Type 1 and Type 2 Diabetes: A Web-based Survey in Germany, the UK, and USA. Diabetes Ther. 2016; 7: 335–348. doi: 10.1007/s13300-016-0175-x
- Lumb, A et al. Diabetes management for intense exercise, Current Opinion in Endocrinology, Diabetes and Obesity. 2009; 16(2):150-155. doi: 10.1097/MED.0b013e328328f449
- Dhatariya, K. Blood Ketones: Measurement, Interpretation, Limitations, and Utility in the Management of Diabetic Ketoacidosis. The review of diabetic studies. 2016;13(4):217-225. doi:10.1900/RDS.2016.13.217.
- Trachtenbarg, D. E. Diabetic Ketoacidosis. American Family Physician; 2005, 71(9): 1705-1714.